Conselhos de um Músico a um Pastor

Músico é problemático. Músico não lê a Bíblia. Músico só anda em pecado. Músico não quer nada com a vida. Músico é preguiçoso.

Essas são algumas afirmativas ditas por líderes de igrejas e enraizadas ao longo dos anos no coração de quem as ouve. Mitos e verdades sobre o músico cristão. Há décadas, a moral dos jovens musicistas, o caráter do escolhido pela arte suprema, tem sido colocado em cheque.

Os pastores dizem: "Esses problemáticos". Os músicos respondem: "Interesseiros". Quem está certo nessa história? Quem domina a razão? Pois bem, a palavra "razão" é perfeita pra darmos início a essa reflexão.

Um simples dicionário vai dizer que "razão" é a faculdade de raciocinar, de compreender, de estabelecer relações lógicas. Eu gosto dessa definição. Mas gosto mais ainda do que a Filosofia tem a dizer sobre essa palavrinha. Segundo ela, "razão" é faculdade de raciocinar discursivamente, de combinar conceitos e proposições. Cá entre nós, combinar conceitos nunca foi uma missão fácil entre os estudiosos da hermenêutica e exegese e os desocupados tocadores de instrumentos. Não é verdade?

A essas alturas você pode estar se perguntando: mas quem é esse tal de Fabianno pra abordar tal assunto? Eu sou filho de pastor, irmão de pastor, parente de um monte de diáconos, obreiros, ministros de louvor, primo de músicos, já fui líder da JNI (Juventude Nazarena Internacional) quando eu tinha apenas 17 anos e hoje sou líder e diretor musical do Ministério Som e Vida da IBCNP (Igreja Batista Central em Nova Pavuna). Sou tecladista desde quatorze anos e gostaria de lembrar que hoje tenho trinta e três anos. Pode usar a calculadora. No problem. Acho que isso me dá alguma bagagem pra discursar sobre o tema.

É verdade que muitos músicos deram motivos pra que frases negativas fossem propagadas ao nosso respeito. Paralelamente, pastores também deram mal exemplo de alguma forma, a diferença é que ninguém pode falar contra os ungidos de Deus. Amém? Que pressão! Quem tem ouvidos ouça.

Sim, alguns andavam sem Bíblia (como se fosse pecado). Outros se relacionavam antes do casamento (ISSO É PECADO). Conheci um que usava drogas e por aí vai. Mas pense comigo, todas essas fraquezas não são exclusivas do músico, qualquer ser humano pode errar inclusive os líderes. Mas quando um músico errava ele tinha que pedir perdão pra toda a igreja, e quando um pastor errava... Opa esqueci que pastor não erra... Deixa pra lá. Saiba que não estou dizendo que pecado não é pecado, só quero dizer que todos pecam. Independente do tipo de pecado. E ninguém é melhor do que ninguém.

É claro amigos, que estou trazendo um pouco do que acontecia excessivamente na igreja de alguns anos atrás, mas que ainda possivelmente acontece em algumas igrejas de hoje... é verdade que essa realidade tem mudado bastante. Por isso não encarem o que digo como algo generalizado.

Voltando ao conflito pastor vs. músico, é certo que o músico sempre quis ser pastoreado e não usado. Você tá ficando maluco Fabianno? Não. A verdade dói mesmo, não foram poucas as ocasiões em que músicos desabafaram comigo problemas do tipo: "você faltou o culto de quarta feira, nossa! Ficou muito difícil levar o culto sem guitarra". A questão era sempre a falta de uma guitarra e de um guitarrista, nunca a falta de uma ovelha que possivelmente tinha problemas. "Você não veio à escola dominical, então não toca a noite”. Você não colaborou com “UM REAL DA CAIXINHA – NÃO VAI TOCAR”. “Você não pode tocar esse mês porque você não deu o dízimo".  Mas porque o indivíduo não deu o dízimo? Será que ele está desempregado? Será que ele precisa de alguma coisa? NÃO. Essa nunca foi a realidade desse relacionamento conturbado. O sonho de combinar conceitos estava longe. A essas alturas muitos pastores já devem estar querendo apertar o meu pescoço. Alguns podem dizer que isso nunca aconteceu. Eu digo que eles sempre se omitiram quanto a essa verdade. Eu já vi músicos se derramando em tristeza ao falar sobre esse tema desejando frequentar a Igreja Cristo em Casa, como também já vi muitos pastores fazendo cara de paisagem mediante a uma situação tão séria.

Um músico cristão, ou levita, chame como quiser, sempre teve tanto a oferecer. E parece que muitas igrejas tem reconhecido isso hoje. A minha igreja é uma delas. A parceria entre músicos e pastores na IBCNP é uma harmonia funcional. Deus tem chamado alguns não só para tocar, mas para pastorear também. Outros pra aconselhar, cuidar, orar, ajudar em outras áreas fora a música. E francamente, os líderes que não perceberem que esta parceria é inevitável, vão privar seus ministérios de crescer.

Digo que muitos músicos que se dizem cristãos não se posicionam como tal. Fato. São fúteis, só dizem o que não presta, xingam, vão conversar fora do templo depois do louvor, são estrelas do santo lugar, etc etc etc... Mas felizmente, como em qualquer outra tribo ministerial dentro da igreja, esse não é um problema generalizado, como já dito. Existem muitos músicos sérios que evangelizam, que curam e libertam almas pelo poder do nome de Jesus.

Então pastores, saibam que músicos não são deficientes mentais. Não são problemáticos. Eles são ovelhas que precisam de um pastor... Precisam de conselhos, de amigos. Não os veja como um quebra galho, como uma máquina de fazer música. Esses são muitas vezes os motivos de muitos chutarem o balde, de serem "difíceis", amargos, de pularem de igreja em igreja, perdidos querendo achar um pastor que os pastoreie, que os compreenda com simplicidade. Músico não é nenhum super herói. Ele também tem sentimentos, até demais da conta. Ele é o teu companheiro de ministério. Não menos que um pastor. Quem ia à frente da batalha do exército de Israel? Os músicos, você acertou. O escudo dos músicos eram seus instrumentos e o Espírito Santo. Você sabe o que acontece no mundo espiritual quando ele toca? Sei que sabe. Então estabeleça uma aliança com os teus músicos hoje, não deixe pra depois. Mixe os teus conceitos com os deles. Como andarão dois juntos se não estão de acordo? Amós 3:3. Fazendo assim, asseguro que os senhores terão o retorno que esperam. Por favor, não encarem esse texto como uma afronta, mas como conselhos da visão de um músico para a um pastor.